Ivana Fernandes Souza
Ginecologista
Pós graduada em Medicina do Adolescente
Delegada da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência (SOGIA) em Santa Catarina
Professora do Curso de Medicina da UNISUL
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ganhou recentemente novo artigo que institui a primeira semana de fevereiro, como a Semana de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Neste período, atividades de carácter preventivo e educativo deverão ser desenvolvidas em conjunto com o poder público e organizações da sociedade civil.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a América Latina e o Caribe, apresentam a 2ª maior taxa de gravidez entre adolescentes do mundo, superada apenas pela África Subsaariana. Na América Latina e no Caribe, ocorrem anualmente, 65,5 nascimentos para cada 1 mil meninas com idade entre 15 e 19 anos, enquanto a taxa mundial é de 46 nascimentos para cada 1 mil meninas.
Os EUA são o país desenvolvido que apresentam os maiores índices de gravidez na adolescência, com aproximadamente 34 gestações para cada mil garotas. A França tem os menores índices, com 7 gestações para cada mil.
No Brasil, nos últimos 10 anos, a fecundidade de adolescentes com idades entre 15 e 19 anos caiu de 78,8 para 60,5 filhos por mil mulheres. Apesar da queda nos últimos 10 anos na ordem de 18,6%, a participação deste grupo na fecundidade total permaneceu alta (17,4%), conforme aponta a Síntese de Indicadores Sociais de 2015.
De acordo com informações do Ministério da Saúde (MS), somente em 2015, foram 547.564 os nascidos vivos de mães com idades entre 10 e 19 anos. Destes, a maioria, 520.864, ocorreram entre garotas de 15 à 19 anos, 20.872 entre meninas de 14 anos e 5.828 entre meninas de até 13 anos de idade.
O número de gestações na adolescência no Brasil é considerado alto, ocorrendo mais frequentemente entre garotas pretas ou pardas, com baixa escolaridade e residentes da região nordeste, conforme dados dos Indicadores Sociais de 2015. A gestação na adolescência é, na maioria das vezes, não planejada e apresenta-se como um problema com raízes multifatoriais. (quadro1)
Quadro1: Fatores Predisponentes à Gravidez na Adolescência
Menarca precoce |
A gestação precoce tem consequências importantes no âmbito social, emocional e biológico, interferindo diretamente na vida da mãe, do parceiro e da criança e indiretamente na vida dos familiares.
A melhoria das condições de vida é fator fundamental para a prevenção da gestação na adolescência. A implementação de políticas públicas que estimulem, valorizem e facilitem a inserção escolar universal e a manutenção dos adolescentes nas escolas são, com certeza, fundamentais para a prevenção e adiamento da gestação precoce.
A existência de um projeto de vida, bem como uma boa relação familiar, são também importantes fatores protetivos.
Como profissionais da saúde, pais e educadores, almejamos um maior comprometimento do poder público com a abertura de “canais” que possibilitem o ingresso amplo e irrestrito dos jovens a educação em saúde, sexualidade e reprodução, permitindo acesso facilitado e gratuito à contracepção e assistência pré e pós-natal adequada. Somente estas ações em conjunto, podem contribuir para a conscientização e redução dos índices de gestações na adolescência e suas complicações.
A Semana de prevenção da Gravidez na Adolescência pode ser uma passo decisivo para a sensibilização da sociedade e do poder público neste sentido.
Fonte:
1- Taxa de gravidez adolescente no Brasil está acima da média latino-americana e caribenha. Disponível em: https://nacoesunidas.org/taxa-de-gravidez-adolescente-no-brasil-esta-acima-da-media-latino-americana-e-caribenha/ Acesso em 09/08/2018.
2- Taxa de fecundidade caiu 18,6% em 10 anos no País. Disponível em http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/12/taxa-de-fecundidade-caiu-18-6-em-10-anos-no-pais. Acesso em 17/08/2018.
3- Azevedo WF, Diniz MB, Fonseca ES, Azevedo LM, Evangelista CB. Complicações da gravidez na adolescência: revisão sistemática da literatura. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/eins/2015nahead/pt_1679-4508-eins-S1679-45082015RW3127.pdf. Acesso em 17-08-2018
4- SINASC / DATASUS