Dr. Maurício Laerte Silva
Presidente do Departamento Científico de Cardiologia da SCP
As cardiopatias congênitas são responsáveis pelas malformações mais frequentes no ser humano, com cerca de 1% dos recém-nascidos vivos sendo portadores destes defeitos. Cerca de 30% deles não trarão consequências para a saúde das crianças e adolescentes, não necessitando de qualquer tratamento ao longo da vida. Outros 30% são anomalias que fazem os pacientes manifestarem sintomas, como falta de ar, cansaço, diminuição da oxigenação sanguínea ou baixo ganho de peso; ou provocam alterações no coração que podem comprometer seu funcionamento adequado para sempre, ou nos vasos dos pulmões, prejudicando o processo de oxigenação e aumentando a pressão, quadro denominado de hipertensão pulmonar. Estes pacientes necessitarão, em algum momento, de tratamento clínico, e cirurgia ou procedimentos intervencionistas por cateterismo cardíaco.
Os demais são cardiopatias graves, que podem causar problemas já na vida intrauterina ou logo após o nascimento, por isso precisando de diagnóstico fetal ou pós-natal, bem como de tratamento em centro de referência com toda a estrutura para prestar assistência adequada.
Por estes motivos, o dia 12 de junho foi escolhido como o “Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita”, para alertar a população e os profissionais da saúde sobre este importante problema, ainda desconhecido para muitos.
Objetivando facilitar a detecção de defeitos mais graves ainda na maternidade, foi instituído o “Teste do Coraçãozinho”, obrigatório em todo o Brasil.
Vale ressaltar que várias cardiopatias não provocam sopros ou outras manifestações no recém-nascido com poucas horas ou nos primeiros dias de vida, dificultando seu reconhecimento precoce e, consequentemente, seu tratamento, colocando-o em risco de vida. É uma maneira de, com mais esta ferramenta, facilitar o diagnóstico destas doenças. Todos devem estar atentos e exigir sua realização.
Outra ferramenta tão ou mais importante ainda, é o ECOCARDIOGRAMA FETAL, ou seja, o ultrassom do coração do feto. Este exame deve ser realizado entre a 24ª a 28ª semana de gestação, preferencialmente, mas pode ser feito antes ou depois se houver necessidade ou indicação.
Qual a importância deste exame? Basicamente, detectar todas as anomalias congênitas possíveis.
Há possibilidades de não se conseguir fazer o diagnóstico? Sim, por vários fatores, como a posição fetal, a idade gestacional avançada, por dificuldade técnica na obtenção das imagens (abdome volumoso por obesidade materna, pouco líquido amniótico ou líquido em excesso, gestações múltiplas, etc.). As cardiopatias mais graves, mais complexas, geralmente podem ser reconhecidas.
E existe tratamento nesta fase? Alguns fetos podem ser beneficiados com procedimentos intrauterinos, mas existem poucos centros com experiência para isso.
O mais importante em relação ao diagnóstico é, em primeiro lugar, ter ciência que o bebê vai nascer com uma alteração, que pode não desencadear qualquer problema de saúde, mas pode causar alteração na ausculta do coração, como sopro, por exemplo.
Ou, pelo contrário, que poderá causar risco de vida, e o nascimento desta criança ser planejado de tal forma a se propiciar a assistência necessária para salvá-la.
Com o desenvolvimento tecnológico da assistência neonatal, da cirurgia cardíaca e dos procedimentos por cateterismo, hoje em dia podemos oferecer muitas chances de sobrevida, com qualidade e expectativa de vida antes jamais imaginadas, para estas crianças.
Então, que todos os dias sejam dia 12 de junho, para que sempre lembremos das cardiopatias congênitas, e de como somos todos importantes para oferecer a estes pacientes a chance de serem tratados, quando necessitarem, no tempo certo e da melhor forma possível.